Conhecer a imunidade materna é um diferencial para a imunização eficiente dos pintinhos

Eva Hunka, MSc. em Medicina Veterinária Preventiva

Saber administrar os níveis de anticorpos mater- nos e usar isso na hora de definir os programas vacinais, além de melhorar o desempenho das vacinas, pode trazer diferenciais no controle dos agentes infecciosos a campo.

Quando vamos elaborar um calendário de vaci- nação precisamos conhecer um pouco sobre os tipos de imunidade e também como atuam frente aos diferentes desafios. Este comportamento interfere diretamente na eficiência do programa vacinal, lembrando que os objetivos da vacinação podem variar de acordo com a aptidão do animal, bem como o ciclo de vida desta ave.

A imunidade passiva é aquela adquirida durante a passagem dos anticorpos maternos da galinha reprodutora para o pintinho durante o seu desen- volvimento. É uma imunidade de curta duração, podendo variar de 1 a 3 semanas, de acordo com a quantidade de anticorpos transmitida vertical- mente ou ainda pela característica da enfermidade em questão, já que a capacidade de transmissão de anticorpos não é igual. No caso da vacinação de reprodutoras, o programa vacinal é desenhado para elevar a quantidade e a qualidade destes an- ticorpos.

Quando falamos de vacinação de aves de ciclo longo, vale lembrar que tão importante quanto o produto é o processo vacinal. As vacinas que são utilizadas com o objetivo de elevar o nível de anticorpos que serão transmitidos aos pintinhos são, via de regra, administradas individualmen- te pela via intramuscular ou mesmo subcutânea. Este processo sofre muita interferência humana e são comuns erros como injeção parcial, local de aplicação ou, até mesmo, aves que recebem a injeção a partir de frascos vazios. Isto provo- ca uma variação grande na resposta individual, o que dificulta o gerenciamento destes títulos maternos.

Vacinação correta:

Vacinação incorreta:

A imunidade passiva pode interferir no desen- volvimento da imunidade ativa, já que devemos vacinar as aves jovens levando em consideração os diferentes fatores para se determinar o melhor momento da aplicação. Estes fatores são: quan- tidade e velocidade de queda dos níveis de anti- corpos, uniformidade do lote, desafio de campo, via de administração e tipo de vacina. Este tipo de proteção é muito importante nas enfermidades de Gumboro, Newcastle, Reovírus e Anemia In- fecciosa.

Algumas vacinas se fazem valer desta caracterís- tica e se adaptam à cinética dos anticorpos ma- ternos, atuando de maneira diferenciada em cada indivíduo e diminuindo, assim, a janela de vulnera- bilidade imunológica, como é o caso das vacinas de complexo imune. Mais recentemente, algumas vacinas vivas se utilizam dos anticorpos maternos para formar estes complexos naturalmente. Neste último caso, temos uma resposta ainda mais pre- coce: cerca de 3 dias antes das vacinas de imu- nocomplexo.

Quando ocorre um desafio de campo ou mesmo quando o animal recebe uma vacina, temos o iní- cio da imunidade ativa. Esta promove o desenvol- vimento não só de anticorpos, como também da imunidade celular, que irá proteger as aves contra as enfermidades.
As vacinas, compostas por microrganismos vivos ou inativados, estimulam uma resposta específica nas aves. Estes agentes possuem proteínas co- nhecidas como antígenos, que são reconhecidas pelo animal como substâncias estranhas. De uma forma simplista, é neste momento que se inicia a resposta imune, quando os macrófagos traba- lham para eliminar o agente do corpo do animal.

Estes enviam sinais para que os linfócitos (B e T) se multipliquem e produzam uma resposta espe- cífica. Esta resposta está dirigida pelas linfocinas (interleucinas e interferons). No final acontece a produção de anticorpos específicos e a indução da imunidade celular contra este antígeno.
As células de memória têm a capacidade de reco- nhecer os antígenos e apresentar uma resposta rápida e amplificada, caso a ave seja exposta novamente ao agente. Para algumas enfermida- des, a combinação de vacinas vivas e inativadas promove um aumento geral no nível de anticor- pos; para outras, o uso de vacinas vivas, que es- timulam a produção da imunidade celular e tam- bém da imunidade local é mais eficiente.

Quando falamos em frangos de corte, uma ave com ciclo de vida muito curto, a precocidade na resposta vacinal é determinante para uma prote- ção adequada, principalmente quando se trata de proteção contra doença de Gumboro, onde a co- lonização da Bursa por uma cepa vacinal colabora para a vacinação não apenas da ave, mas para uma imunização do ambiente. Quando optamos por cepas que formam o imunocomplexo natural, podemos nos beneficiar dos anticorpos maternais de maneira eficaz e antecipar a resposta imunoló- gica, e consequente colonização da Bursa em até 3 dias.

Estabelecendo um programa vacinal adequado, vamos determinar as datas de vacinação e os pro- dutos que serão utilizados de acordo com os ob- jetivos desejados. Estes são fatores determinantes para alcançarmos resultados diferenciados.